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16 de maio de 2007

SOBREHUMANO (3° EPISÓDIO - 1ª PARTE)




Episódio 3 – Posso ver o passado?

1ª parte

Tudo estava escuro, fazia muito frio ao mesmo tempo em que um calor intenso tomava conta dos sentidos. Vincent acabara de recuperar a consciência, mas ele não conseguia definir se estava de pé ou deitado, de frente ou de costas, todas as referências de espaço foram perdidas, como se o vidente estivesse flutuando em um grande, quase infinito, espaço vazio.

A “sala dos mistérios” já não existia, Skyline há muito fora destruída, oceanos haviam secado e o sol, agora uma gigante vermelha, já engoliu Mercúrio e Vênus. Num piscar de olhos o primeiro ser pluricelular deixava os mares e iniciava sua longa jornada – não planejada, mas dominada completamente pelo acaso.

Vincent estava perdido no fluxo do Tempo, futuro e passado iam e viam, se misturavam, davam origem a séries infinitas de eventos possíveis na cadeia de possibilidades que se perpetuavam ad infinito. A mente do místico não conseguia captar tudo o que estava acontecendo, a ausência de lugar e de tempo era insuportável. As memórias de outra criatura invadiam e se mesclavam com suas próprias lembranças.

Ele tremia da cabeça aos pés, em uma convulsão desgovernada e acelerada, nenhuma dor, nenhuma sensação, ele não sentia nada. Suas mãos tentavam se agarrar em algo, mas não havia onde se agarrar. Descargas elétricas de seu cérebro tentavam controlar o movimento descontrolado de seu corpo, um líquido quente e viscoso jorrava pelo nariz, os olhos, então começaram a arder, a cabeça por um pequeno instante doeu como se tivesse sido atingida por uma grande e pesada bigorna que espalhava os pedaços de ossos do crânio por toda a parte. A escuridão persistia.

Um grito agudo, seco e inumano rompeu o silêncio...


***
Em Londres o silêncio de Papillon apenas confirmava que as notícias eram verdadeiras. Os generais da Corte descordavam sobre os rumos a serem tomados. Com Abraham, que não era um general, mas o homem de confiança de Deus eles eram nove. Cada um deles comandava as forças que tutoravam os estados que foram considerados por Papillon inaptos para auto-governar-se. O mundo estava dividido em duas frentes: Estados aptos e Nações pertencentes a Corte, os “representantes terrenos” de Deus.

Metade dos generais estava com Liu, admitir que Papillon não estava mais entre nós, que ele transcendeu para um estágio verdadeiro de divindade, sem admitir que ele foi atacado e aumentar ainda mais o domínio militar sobre as regiões tutoradas.

Os outros quatro, em especial Marco, responsável pelo policiamento da região latina (que se estende do México até a Venezuela) e um dos comandantes mais competentes, acreditava que o poder deveria ser dividido entre os generais em novas zonas de controles (todas já definidas por esses militares) e novos Estados deveriam ser fundados, além disso, uma caçada aos assassinos de Deus deveria ser decretada e se novamente um país quisesse se opor ao poder da Corte deveria ser completamente destruído para servir de exemplo.

Abraham permanecia em silêncio, os generais estavam exaltados, ele como era um intelectual já arquitetava algo, não deixaria escapar a oportunidades e manter sob seus auspícios o mundo que ele e Papillon haviam construído, ou melhor, que estava em construção.

A hora de se pronunciar estava chegando
***
O grito ainda ecoava pelas paredes quando Maria Cruz, noiva de Vincent, invadiu a sala dos mistérios com uma vela na mão. O único ponto luminoso vinha da brasa da mirra que ainda queimava. O pequeno braseiro não era capaz de iluminar muita coisa, a claridade produzida pela chama da vela evitou que Maria tropeçasse em Mohamed, que estava no chão desacordado.

A jovem morena de ascendência latina ajoelhou-se e tocou no hindu, ele estava gelado, mas ainda respirava, seus pulmões se enchiam de ar bem vagarosamente e o movimento da respiração mal conseguia ser percebido sob a camisa branca de seda levemente rasgada. A mulher com a mão tremula aproximou a vela do rosto de Mohamed, a boca estava levemente aberta e seus olhos estavam escancarados, ela tocou em algo estranho no rosto do homem e aproximou ainda mais a chama e percebeu que os olhos do homem sangravam.

Ela chamou por Vincent e não obteve resposta, seu coração que já estava acelerado pelo som do grito inumano escutado a poucos segundos atrás disparou desenfreadamente, ela não sabia o que esperar e muito menos o que estava acontecendo, suas pernas começaram a tremer e ela não conseguiu ficar de pé, engatinhando percorreu os poucos metros que deveriam separar Vincent de Mohamed, na apertada “sala dos mistérios”, sua angústia aumentou ainda mais quando ela percebeu que Vincent não estava lá

Fim da 1ª parte
Continua...

2 comentários:

  1. Oi, César, td bem?
    Estava pensando, não seria interessante montar uma ficha com os personagens principais e suas respectivas biografias, uma coisa pequena, com nome completo, data de nascimento e outras coisas,...blz?
    Abraços,...
    Manda notícia!

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  2. Essa é uma ótima idéia Carol, logo devo fazer isso
    Obrigado pela dica

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