Venho aqui hoje fazer uma recomendação: S.O.S saúde (Sicko) de Michael Moore. É mais um documentário polêmico deste diretor. Trata-se de uma investida atroz de Moore sobre o sistema de saúde norte-americano, que é, atualmente, baseado na atuação de instituições privadas.
Quando ouvi falar desse filme, a primeira coisa que me veio a mente foi: o que me interessa ver alguém criticando o sistema de saúde norte-americano, se o nosso, no Brasil, é infinitamente pior? Será que posso me surpreender com algum problema que venham enfrentando lá na sede imperial? O que me motivou a assistir foi o pequeno revolucionário que existe dentro de mim, que é extremamente anti-americano! :^)
De fato, nosso sistema de saúde é péssimo. Nojento. Eu mesmo não tenho plano de saúde, e ainda que tivesse, não acho que estaria certo de que iria sobreviver caso necessitasse muito de auxílio médico. Por que penso isso? Devido ao que o novo filme de Moore me ajudou a ver: a indústria dos seguros saúde. Sim, nos EUA, 250 milhões de cidadãos estão cobertos por algum plano de saúde, mas Moore constrói o documentário recheando-o de casos que tentam comprovar sua tese de que as empresas que gerenciam estes seguros fazem de tudo (tudo mesmo!) para não pagar intervenções médicas mais caras ou tratamentos experimentais.
É interessantíssima a forma como Moore montou seu documentário, mas nada surpreendente, visto seus outros filmes. Ele nos leva a uma viagem profunda na sociedade estadunidense, mostrando-nos as contradições da terra da liberdade. O filme desconstrói a idéia anti-estatal que os americanos têm da gestão da saúde por meio de exemplos de outros países onde o sistema é público e gerido pelo Estado, como a Inglaterra, Canadá, França e Cuba. Nessa viagem, são feitas constatações bastante instigantes da relação entre a privatização dos sistemas de educação superior e saúde, no sentido que, quanto mais as pessoas contraíssem dívidas, fossem menos educadas e menos saudáveis, mais facilmente seriam controladas. Isso é argumentado de uma maneira bem inteligente pelo diretor.
Outra característica de Moore é seu bom humor: até ao abordar um assunto dramático a esse ponto – mostrando diversos casos de pessoas que morreram por falta de assistência dos seus planos de saúde – ele consegue ser muito engraçado! Não engraçado de rolar de rir, claro, mas pela sua acidez mórbida e ironia que, juntas, beiram o mau gosto, mas que, no fim, só o deixam mais intrigado e ansioso para saber o desfecho.
Não é novidade que Moore é um ferrenho crítico das forças político-econômicas que governam os EUA e um dos poucos personagens públicos que podem ser identificados como de esquerda naquele país. Por isso, como em tudo, não devemos ver o documentário e levantar suas bandeiras ou acreditar em tudo o que ali é dito. Eu, por exemplo, fiquei com sérias dúvidas quanto ao tamanho das desgraças do sistema de saúde norte-americano. Não acredito que o problema seja tão grande assim e, ideologias a parte, tenho certeza de que as coisas funcionam melhor nos EUA do que em Cuba – um dos exemplos utilizados por Moore em contraposição do modelo americano. Isso mostra somente que o filme é feito para provar o ponto de vista do autor e não para ser imparcial e justo. Moore claramente não gosta do sistema de saúde de seu país, acha pornográficos os lucros das corporações que administram esses fundos, e desumano o tratamento que seus segurados recebem (quando recebem). É isso que se verá no documentário.
Vale a pena conferir esse excelente documentário. Talvez pela pouca expectativa que depositei antes de assistir, esse foi o melhor filme de Michael Moore na minha opinião.
Clique aqui para baixar o torrent do o filme e aqui para a legenda. Divirtam-se!
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