03/07/2008
Agência FAPESP – O Sistema Solar não é arredondado como se achava. Ele tem uma forma assimétrica, pois é amassado pelo campo magnético interestelar. A comprovação vem de um estudo feito a partir de dados enviados pela sonda Voyager 2, que está na fronteira final do Sistema Solar.
A Voyager 2 foi lançada em 20 de agosto de 1977, seguida alguns dias depois por sua nave irmã, a Voyager 1. Percorrendo mais de 1,6 milhão de quilômetros por dia, ambas estão em uma região turbulenta que começa a cerca de 14 bilhões de quilômetros do Sol e na qual o vento solar é reduzido ao encontrar o meio interestelar, o fino gás que preenche o espaço entre as estrelas.
Entretanto, a Voyager 2 tomou um rumo diferente ao cruzar, em agosto do ano passado, a fronteira da região conhecida como heliosheath, região da heliosfera que fica entre a heliopausa e o choque de terminação do vento solar.
Em artigo publicado na edição de 3 de julho da revista Nature, ao lado de outros quatro sobre resultados de observações recentes a respeito dos limites do Sistema Solar, Linghua Wang, da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, e colegas confirmam o formato “amassado”, ou seja, que a bolha formada no espaço interestelar pelo vento solar não é redonda.
O motivo é que a bolha é empurrada de volta em direção ao Sol pelo campo magnético interestelar, o que faz com que se deforme. A sonda cruzou a heliosheath em um ponto mais próximo do Sol do que seria esperado se a bolha fosse arredondada, indicando um “dente” irregular no local.
O vento solar, formado por partículas carregadas eletricamente, é soprado pelo Sol em todas as direções, formando uma bolha que se estende pelo espaço além da órbita de Plutão. Essa bolha é a heliosfera, e teve sua camada externa explorada pela primeira vez em 2004, com a Voyager 1, quando então a nave encontrou a onda de choque que envolve o Sistema Solar.
Embora a Voyager 1 tenha cruzado antes a zona de choque de terminação, seu instrumento de ciência de plasma, capaz de medir diretamente a velocidade, densidade e temperatura do vento solar, não estava mais funcionando.
O instrumento similar a bordo da sua nave irmã está operando perfeitamente, o que permitiu os novos estudos. Outra diferença é que a Voyager 1 cruzou essa fronteira uma vez, quando dados não foram enviados, enquanto a outra o fez por diversas vezes.
(Anéis de Saturno - foto da Voyager 2) O resultado das medições feitas pela Voyager 2 também apontam uma onda de choque incomum. Em uma onda normal, o material que se move rapidamente diminui a velocidade e forma uma região densa, mais quente, à medida que encontra um obstáculo.
Entretanto, a sonda encontrou uma temperatura além da zona de terminação cinco vezes inferior à esperada. Segundo os cientistas, isso indica que a energia está sendo transferida para partículas de raios cósmicos que se aceleram a altas velocidades com o choque.
Companhia após décadas
Por muitos anos as duas Voyager serão a única fonte de observação local da fronteira final do Sistema Solar, mas a Nasa, agência espacial norte-americana, pretende lançar ainda este ano uma missão com o objetivo específico de estudar a região. O Explorador da Fronteira Interestelar (Ibex) usará átomos energéticos neutros para produzir mapas da interação da heliosfera com o espaço interestelar.
As Voyager estão longe demais do Sol para poder usar energia solar. Elas empregam geradores termelétricos radioisotópicos para garantir o funcionamento de seus instrumentos que, em cada uma, tem consumo menor de 300 watts. A Nasa estima que a energia interna seja suficiente para que as sondas continuem operando até por volta de 2020.
As duas se comunicam com os cientistas da Nasa por meio da rede Deep Space, um sistema de antenas instalado em diversos países. Elas estão tão distantes que comandos enviados da Terra precisam de 12 horas para chegar à Voyager 1 e 14 horas para serem recebidos pela outra nave.
As espaçonaves carregam mensagens, para o caso de serem encontradas por alguma outra forma de vida. Um disco de cobre e ouro de 12 polegadas contém dados selecionados para mostrar a diversidade da vida, da sociedade e da cultura da Terra.
O conteúdo do disco foi selecionado por um comitê então liderado pelo astrônomo e escritor Carl Sagan (1934-1996). Estão gravadas 117 imagens e diversos sons obtidos na natureza, além de seleções musicais de diferentes culturas e períodos e saudações em 54 línguas.
O artigo Domination of heliosheath pressure by shock accelerated pickup ions from observations of neutral atoms, de Linghua Wang e colegas, e os demais a respeito dos dados enviados pela Voyager 2 podem ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.
Mais informações sobre a missão Voyager: http://voyager.jpl.nasa.gov
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