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28 de outubro de 2010

A QUALIDADE DA NOSSA DEMOCRACIA

Até o presente momento não expressei minha opinião sobre as eleições para presidente em 2010. Meu parceiro do blog, o Marcelo Beraba, em seu perfil no Facebook, militou fortemente em nome da candidata do partido dos trabalhadores, assim como o Paulinho, que o fez de maneira mais tímida (direito que ambos exreceram com qualidade).

Eu, por sua vez, me detive a firular pelas mídias sociais com conhecimento e cultura inútil e toquei as coisas como se “nada” tivesse acontecendo. Claro que isso não quer dizer que eu não tenha dado a devida importância ao processo, pelo contrário, em meus círculos profissionais e nos mais íntimos destilei abertamente minhas opiniões. Fiz e faço política cotidianamente.

Entretanto, não me posicionei a favor de candidato A ou B, embora tenha minhas convicções políticas muito firmes. Por incrível que pareça, nessa eleição nenhum dos candidatos conseguiu me convencer totalmente. Não voto nulo nem branco, embora nessa eleição farei parte dos que se abstiveram nos dois turnos. Não por preguiça ou desesperança, mas por uma questão prática. Me mudei para o litoral e não consegui transferir meu título a tempo. Mas isso não vem ao caso.

Ao não tomar partido e saber de antemão que não me envolveria no pleito, ocupei o lugar de “vuvuzelelo”.

Infelizmente nessa longa campanha obrigatória no Rádio e na TV o que mais se viu foi o “mais do mesmo”. Os candidatos a deputado, tanto federal quanto estadual, apenas exibiram seu rosto em um curto espaço de tempo e repetiram clichês.

Por incrível que pareça, o mais original dos candidatos foi o Tiririca. O texto criado por humoristas que ele decorou durante sua campanha televisiva retratou o que a maior parte da população sabe sobre o que faz um deputado, quase nada.

Espanta-me ver que a idéia de personalização na política ainda resista. Se o mandato do Tiririca não for cassado por ele ser analfabeto, a margem de manobra que ele terá dentro do Congresso será mínima ou quase nula.

O palhaço fará parte do chamado “baixo clero”, ou seja, comporá a bancada do partido e contará como voto da bancada governista. Pouco provavelmente o deputado tiririca ocupará algum cargo importante em uma comissão parlamentar, pois na dinâmica atual dessa casa, debutantes exercem apenas a função de “votadores”.

Propor projetos que cheguem a votação? Dificilmente ocorrerá no primeiro mandato. Caso similar aconteceu com o falecido Enéias - do também falecido PRONA. Recebeu 1,5 milhões de votos e pouco fez. Embora tenha enfrentado um câncer, pouco conseguiria mesmo saudável.

Os lideres dos partidos, também conhecidos como “caciques”, é que tomam as decisões, fazem os acordos e em muitas ocasiões se envolvem em negociatas. Em nossa história recente, nos últimos 16 anos para ser mais exato, as negociatas tornaram-se quase regra. Vide os “anões do orçamento”, a compra de votos para a emenda da reeleição, o mensalão, a escolha de diretores das estatais, etc, etc. e etc. Um dos motivos para essa recorrência é que não há limite para a reeleição de deputados.
 
Na eleição de 2010 pouco se contribuiu para o aperfeiçoamento da democracia. Em nenhum momento o jogo (no bom sentido) que ocorre depois da eleição foi esclarecido para a população. Nosso sistema político é partidário e representativo. Um deputado estadual ou federal deve seguir as diretrizes de seus correligionários, dos lideres das bancadas. Claro que tem o poder de barganhar entre os seus. Talvez consiga criar projetos que ajudem a melhorar a região que representam, mas isso apenas se tiver força interna dentro dos partidos.

As decisões nos partidos brasileiros raramente partem da base, sempre são tomadas na cúpula. O PT, durante mais de 20 anos se caracterizou por ter uma base forte, participativa e que se envolvia em decisões importantes. Porém, na transformação que enfrentou no segundo mandato FHC para se apresentar como opção de viabilidade para o governo se igualou aos demais, tendo centralizado em sua cúpula, majoritariamente formada pelos membros da corrente “Articulação”, todas as decisões. O PSDB foi assim desde seu começo.

Lembro-me bem que nos anos 90 os articulistas dos jornais de grande circulação dividiram o PSDB em duas alas, o “Bom” e o “Mal”.

Na campanha presidencial o que vimos foi um show de ataques das mais variadas formas. Pouco se disse sobre como os candidatos formariam seu primeiro time, o dos ministros. O presidente não muda nada por força de vontade. Ele depende de uma boa articulação política no senado e no congresso, de uma equipe de ministros capaz de gerir bem os negócios do Estado e que caminhe na mesma direção. Daí a importância do esclarecimento sobre o funcionamento da política e também o por que da necessidade de se implementar uma reforma nessa instituição social.

Plano de governo?

O candidato Serra não apresentou nenhum e a candidata Dilma mostrou apenas diretrizes gerais as vesperas da votação.

As campanhas foram dominadas por uma demagogia religiosa e por ataques mútuos as personalidades dos concorrentes ao planalto. Esse clima de desqualificação do candidato, mas não do plano de governo ou de modelo de gestão impregnou a internet.
Recebi milhares de e-mails desqualificando tanto a Dilma quanto o Serra. No Facebook, no Twitter, em blogs e outras vitrines virtuais a tônica foi a mesma. Não vi nenhum debate mais qualificado, uma opinião debatida entre os usuários de redes sociais, talvez eu freqüente os lugares errados.

Essa campanha poderia ter contribuído para melhorar a qualidade da nossa democracia, ampliando o debate e focado em questões mais importantes e cruciais para a consolidação do país no cenário mundial.

Nos anos 70 do século passado o PIB do Brasil crescia cerca de 11% ao ano, porém, a falta de mobilidade política e de participação de setores importantes da sociedade no governo levou a uma construção de país em bases argilosas. Os anos 80 comprovaram isso.

Estamos passando por um bom momento econômico, levemente mais sólido. Contudo, se mantivermos índices de aproveitamento em educação como os atuais (60% dos alunos terminam o Ensino Médio sem dominar os princípios básicos da matemática, por exemplo); uma estrutura tributária injusta; uma máquina pública ineficiente em muitos setores como o da saúde; e o paraíso da negociata ao invés da Política, com P maiúsculos mesmo, se essas questões não forem resolvidas com urgência pouca coisa mudará e teremos novas décadas perdidas.


FICO POR AQUI – EXPRESSEM-SE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

2 comentários:

  1. Eles,em especial o Serra,perderam uma grande oportunidade de expor suas ideias.Ao invés disso ficaram se alfinetando...

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  2. Olá grande homem de Atenas, também conhecido com C.A.
    Nessas eleições eu tive um forte envolvimento em conhecer e saber mais sobre os candidatos, as campanhas e os programas de governo. E também acabei-me por contribuir com a militância a favor da Dilma, e deve registrar que os primeiros pronunciamentos da nova presidenta estão melhores de quando candidata (devem ser a ausência dos marketeiros). De fato, a campanha não foi além das ideias aqui apresentadas, com a diferença que o PSDB jogou mais sujo, pelo menos na minha opinião, haja vista o vídeo "2012 - O fim está próximo" divulgado em um blog oficial da campanha do Serra, ícone da tonalidade assumida pelos psdbistas.

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