Páginas

7 de setembro de 2012

Tropeçando nas palavras - fragmentos




Boa madrugada, caros!

Tenho aqui em mãos um livro com páginas faltando, onde pode-se ler somente o título - esse que vai aí no post - e o autor, um tal de Fernando Alves Pe. Alguns textos parecem não concluídos; as páginas também estão embaralhadas.

No último fim de semana terminei de ler "A queda", de Albert Camus e revi "Into the Wild". Por isso, essa semana tem sido bem reflexiva. Sorte minha que topei com esses fragmentos e encontrei um que fala de projeções, de encontros e desencontros...
Não sei o motivo, mas lendo me lembrei de uma música do André Abujamra.

O texto vai em seguida:

Tropeçando nas palavras - fragmento


- Eu escrevi para você...
- Como você escreveu para mim??
- Olhei para você, estava bem ali, na minha frente. Olhei nos seus olhos e não pude resistir...
- Mas eu nunca te vi antes. Como pode ter feito isso?
- Não acredita?
- Não.
- Você estava bem ali, na minha frente, numa daquelas noites  em que o sono escorre pelo ralo, numa daquelas madrugadas em  que parece  que o Sandman caiu em alguma armadilha e que a gente nunca mais vai fechar os olhos...
- Ei, não dispersa. Não pode, você nunca me viu antes...
- Também nunca vi um átomo, nunca vi Deus, nem um monte de coisas ...
- Tô falando de coisas palpáveis...
- E existem coisas palpáveis? A gente sempre busca o palpável sem nunca alcançar. Desde o início dos tempos que estamos condenados ao meio do caminho. A gente parte buscando conhecer e acaba voltando modificado.  Ao final, a gente não é mais quem partiu, nem o que buscou. Estamos condenados ao meio do caminho minha cara! Estamos condenados à perdição. E a perdição - ah, a perdição! - pode ser algo doce. Me perderia muito bem ao teu lado...
- E você, o que busca?
- Nesse momento?
- Sim.
- Vou acabar essa cerveja, virar esse meio copo num gole só. Depois vou sentar desse seu lado da mesa, vou olhar nos seus olhos, colocar minha mão esquerda na sua nuca, por debaixo do seu cabelo, vou aproximar minha boca da sua e falar baixinho “eu escrevi pra você.”
- E se eu me levantar agora, virar as costas e ir embora te achando um louco? Pior, e se eu esperar você sentar do meu lado e derrubar acidentalmente a minha cerveja nesse seu jeans anos oitenta?
- De qualquer forma, já estou no meio do caminho - a sorte está lançada!  Minha vida sempre foi tropos. Afinal, é tarde demais, minha cara. Sempre foi tarde. Felizmente. E, felizmente, já me sentei ao seu lado sem que você se desse conta. Deus salve a cerveja e o meio do caminho!

Fernando Alves Pe

Um comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails