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20 de agosto de 2012

Nara, Nasser e as borboletas congeladas

Boa madrugada, caros!

Estava aqui revendo uns textos antigos e tive vontade de compartilhar algo com vocês. Trata-se de um texto terminado em 2009, iniciado muito tempo antes - o nome que dei foi "Borboletas congeladas". Os personagens que estão neste trecho, a Nara e o Nasser, me fizeram companhia durante madrugadas e madrugadas seguidas. A Nara, principalmente, foi uma figura mais que inspiradora, que ainda me fascina. Sinto falta desse pessoal... o texto ainda está sendo enviado para publicação; a releitura deste trecho me fez ter vontade de revisitá-lo. 

Quase todo o texto foi escrito ao som de The Doors e Pedro Luís e a Parede, no álbum com Ney Matogrosso,  que me foi apresentado pelo César:



Dito isso, aí vão as linhas mal traçadas, fragmentos de um texto antigo:

Ela dançava feito o vento numa noite de outono em Macondo. Como os fantasmas livres das correntes de aço. Como os anjos em dia de festa. Mas não com a doçura e com a leveza dos anjos ... era um ser sobrenatural, capaz de enfeitiçar com o seu perfume. Não conseguia retirar seus olhos daquela figura. Estava ela como ele, com os pés sobre a proteção da ponte, talvez como ele prestes a se precipitar rumo à água escura como o destino. Teria sonhado também?
Trovões, relâmpagos. A chuva caiu dos céus enquanto ela permanecia impassível. Não sabia como agir ... pensou em correr, se esconder. Teve a dimensão da sua covardia. Temer a água que caia do céu no momento em que pretendia entregar-se a água turva do rio. Foi quando ela notou a sua presença. Olhou como quem não olhava. Abriu os braços num gesto incerto. Levantou a cabeça e suspirou em um gesto de prazer. Pulou para trás, para dentro da ponte. O coração de Nasser se acelerou. Virou-se para ela, enquanto se aproximava. Parou em frente a ele.
- pra que viver se você não pode sentir a chuva?
- o que?...
- a chuva ... sentir a chuva ... não vale a pena viver se a gente não pode sair por aí numa noite como essa, fazendo essas coisas ... do jeito que a gente tá fazendo agora...
Possuía olhos castanhos, como a enxurrada que parecia chamar o seu corpo lá em baixo.
- O que você tava fazendo aqui? Por que tava aí parado?
- pelo mesmo motivo que você ... a final, pra que viver se...
- se você não pode sentir a chuva – completou. Parecia que você estava procurando alguma coisa.
- como?
- não sei. Você tem olhos de quem procura alguma coisa. Você acha mesmo que vai encontrar olhando aí pra baixo. Aí só tem água e sujeira. Galhos, restos de entulho, talvez os sapatos de alguém levados pela enxurrada. A boneca esquecida por alguma menininha na calçada de casa, restos de comida, camisinhas usadas, nada além disso. Nada que possa preencher alguém. Eu acho.
Era incapaz de admitir os seus atos, as suas intenções. Ou então estava simplesmente perdido, frente aquela figura desconhecida. A saia florida, branca e rosa, molhada junto ao seu corpo ...  os seios insinuantes que teimavam em sobressair e se mostrar por debaixo do tecido fino, sem proteção. Mais que tudo, o seu olhar ... os olhos de quem sustentava a presença pela indiferença ... firmes, despreocupados, misteriosos ... traiçoeiros talvez, como a enxurrada. 

Paulo R. O. 

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