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1 de março de 2011

Volta ao Fronteiras

Olá meus amigos!
Pois é, depois de algum tempo sumido, estou de volta para colaborar com o Fronteiras. E como me disse o César, "vamos fazer do ano de 2011 o melhor ano do blog".
Tenho um texto sobre o clube dos 13 para postar; mas como esse é meu primeiro post de 2011, quero dividir com vocês um texto que escrevi faz algum tempo, publicado originalmente no Blog do Paulinho. Assim, mas pessoas que meus fiéis 6 leitores poderão ler. Abraços e lá vamos nós!!

A montanha que virou pó

Da primeira vez que ouvi falar me pareceu ser aquela uma montanha chegada a devaneios cinematográficos, ou então membro de algum fã clube do ator que em tempos idos se vestia de frango para ganhar o pão. Não fazia muito tempo que havia passado por lá, mas segundo o que me chegava aos ouvidos, a velha montanha que antes sustentava neve em seu cume como sintoma de sua condição de anciã, havia diminuido pela metade.

No início não entendi. Por que uma montanha buscaria a juventude à custa da perda de sua vista para o mar? Por que iria querer perder a imponência. Simplesmente não encontrava a resposta. Não pude me deslocar naquele momento. Estava incapacitado de percorrer as centenas de quilômetros que me separavam dela.

Mas as notícias continuaram chegando. Primeiro pelos amigos, que conheciam o meu respeito e admiração pela montanha. Depois pela imprensa oficial, que não conseguia descrever com a sua ciência jornalística o estranho fenômeno. A montanha, em determinados espaços de tempo, diminuía em progressão geométrica. Logo desapareceria.

Não pude mais esperar. Vesti minhas botas. Peguei o primeiro ônibus. Ao fim de algumas horas estava onde um dia se encontrava a montanha frente a qual havia tido momentos felizes irrecuperáveis. Era, quando a reencontrei, da minha altura. Nada mais que um pequeno amontoado de pedras e terra.

A encarei. É claro que não olhei nos olhos nem conversei com ela. Não seria minimamente verossímil falar tamanha bobagem ou escrever sobre semelhante ilusão. Olhei sim onde imaginava que, fosse provida pela natureza com a faculdade da visão, estariam os olhos. Foi então que entendi.

Entendi o que se passava com a minha velha conhecida quando notei que a fisionomia que sustentava não era aquele marcada pela felicidade da recuperação do tempo, pelo rejuvenescer. ERa uma cara de decepção, de sofrimento, de quem havia sido surrado. Compreendi que ela sofria de cólera, ou de amor, que nas palavras do grande escritor tem os mesmos sintomas. A cada decepção, a cada desilusão, a montanha se voltava para dentro. Diminuía de tamanho.

A pobre montanha possuia dimensões que nem de longe se comparavam com as da época que a conheci. Era simplesmente o que havia restado dela. Virei as costas e saí. Sabia que em pouco tempo ela não seria mais visível. Se tornaria uma partícula minúscula; pó. Dias depois, o desaparecimento da montanha foi noticiado com grande alarde. Fiquei pensando em quantas montanhas já havia varrido do chão do meu apartamento, identificando-as apenas com a sua condição final; com o seu aspecto de pó.

Mas então entendia o sentimento destas partículas incômodas e imperceptíveis individualmente. Ou simplesmente atribuia a elas algo que era meu.

P. R. O.

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