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Letrados e escravizados
07/11/2007
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – A crença, difundida por muito tempo, de que os escravos trazidos para o Brasil não sabiam ler nem escrever faz parte da representação negativa dos povos africanos construída pela colonização portuguesa. Mas uma pesquisa publicada na Revista Brasileira de Educação levanta indícios de que havia uma “disseminação da cultura escrita”, das mais variadas formas, entre escravos e alforriados.
De acordo com a professora Christianni Cardoso Morais, do Departamento de Educação da Universidade Federal de São João del-Rei,
“O estudo pretende contribuir para desmistificar a idéia de que os escravos e forros, mesmo iletrados, não sabiam se utilizar do escrito em seu cotidiano, em uma época em que eram proibidos legalmente de freqüentar escolas públicas no país”, disse Christianni à Agência FAPESP.
A pesquisa se concentrou na região da Comarca do Rio das Mortes, na vila de São João del-Rei,
“A praça comercial de São João del-Rei exercia a função de entreposto, pois era um dos principais centros de exportação dos produtos mineiros e de redistribuição das mercadorias trazidas da Corte. Tinha ainda vida política e cultural muito intensa. Além disso, contava com uma biblioteca pública e uma imprensa periódica bastante significativa no cenário brasileiro. Uma região com tamanha importância gerou grande quantidade de documentos”, explicou.
A pesquisadora analisou um universo de 1.612 documentos produzidos entre 1731 e 1850. As principais fontes foram relatórios do Ministério da Agricultura, analisados por Marcus Vinícius Fonseca, no livro Educação de negros, testamentos e processos-crime e nos anúncios do jornal O Astro Minas, que circulou nesse período.
Nos anúncios – fontes já utilizadas por Gilberto Freyre – há, em muitos casos, a descrição física e também das habilidades dos escravos foragidos ou à venda. Eram descritas marcas, escarificações, cicatrizes provocadas por acidente de trabalho, além das habilidades dos escravos: se tocavam algum instrumento musical, se sabiam ler, escrever, seus ofícios, entre outros.
“Ter profissões especializadas, como ofícios de alfaiate, pedreiro, carpinteiro, que exigiam a utilização de medidas e cálculos cotidianamente, indica um grau bastante refinado de letramento, que é o termo que utilizo na pesquisa para entender os usos sociais, cultural e historicamente atribuídos à palavra escrita”, afirmou Christianni.
Segundo ela, o fato de os escravos e forros solicitarem que alguém lhes escrevesse um documento ou o próprio ato de roubar uma carta de alforria alheia e de usá-la como se fosse sua também demonstram que os cativos sabiam se utilizar da palavra escrita, mesmo não sendo identificados na documentação como capazes de ler e escrever.
Para determinar os graus de “letramento” dos escravos, Christianni utilizou um método de análise das assinaturas a partir de uma escala desenvolvida pelo português Justino Magalhães, que tem cinco níveis. Segundo a escala, o nível 1 corresponde à utilização de siglas ou sinais; o 2 à assinatura rudimentar, de “mão guiada”; o nível 3 indica uma assinatura normalizada; o nível 4 registra uma assinatura caligráfica e o 5 apresenta uma assinatura personalizada, criativa.
Análise de assinaturas
“Fotografei assinaturas e analisei os traços dos assinantes tomando como referência a caligrafia da época. O objetivo foi perceber se a pessoa tinha um traço firme, bem organizado e bem distribuído na folha. Se conseguia fazer arabescos, se ligava as letras umas às outras e se tinha uma boa escrita cursiva, o que não era fácil de se fazer na época, porque o ensino da leitura e da escrita estavam dissociados. Primeiro se aprendia a ler e depois a escrever. Então, se o assinante se encaixa no nível 2, provavelmente sabia ler alguma coisa”, explicou.
A pesquisadora chama a atenção para o fato de que o método não é exato nem preciso. Mas, devido à ausência de fontes diretas, as assinaturas foram utilizadas como fontes históricas, sobretudo pelo poder simbólico que adquiriam entre os assinantes.
Outro aspecto importante é que o ensino da leitura e o da escrita de forma combinada só se disseminou mesmo depois de 1850. De acordo com ela, “a partir dessa data encontram-se pessoas com assinaturas maravilhosas, mas que não sabiam ler. A partir daí, não é mais possível aplicar as escalas de assinaturas.”
“O fato de os sujeitos afirmarem que eram capazes de assinar, apesar de não conseguirem fazê-lo em determinadas circunstâncias, revela o quanto eles podiam, a partir do momento em que sabiam assinar, aumentar seu status em uma sociedade basicamente iletrada”, destacou.
Para ler o artigo Ler e escrever: habilidades de escravos e forros? Comarca do Rio das Mortes, Minas Gerais, 1731-1850, de Christianni Cardoso Morais, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme), clique aqui.
Raios cósmicos vêm dos buracos negros
Estudo com participação de brasileiros mostra que núcleo ativo das galáxias são a fonte dessas raras e energéticas partículas
Revista Pesquisa FAPESP Edição Online 08/11/2007 (fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=4307&bd=2&pg=1&lg=)
As partículas raras e extremamente energéticas conhecidas como raios cósmicos que chegam à Terra a todo momento são provavelmente gerados por buracos negros no centro de núcleos ativos de galáxias situadas a menos de 300 milhões de anos-luz de distância, anunciou hoje um grupo internacional de 370 pesquisadores de 17 países, incluindo o Brasil, com base nos resultados obtidos pelo Observatório Pierre Auger, na Argentina. Até agora o Sol era a única fonte conhecida de raios cósmicos.
Essas conclusões, publicadas como artigo principal da edição de amanhã da revista científica Science, tomam como base a análise da trajetória de 81 raios cósmicos de energia mais alta detectados desde janeiro de 2004 pelo equipamentos do observatório. Descobertas em 1938 pelo físico francês Pierre Auger, essas partículas são tão raras que somente algumas delas podem ser registradas em uma área de
Os resultados obtidos sugerem que os raios cósmicos de energia mais alta podem integrar o plasma ejetado pelos buracos negros dos núcleos de galáxias ativas como a Centauro A, situada além de nossa galáxia, a Via Láctea. Os campos magnéticos do espaço intergaláctico encurvam a trajetória dos raios cósmicos, que se fragmentam em um chuveiro de partículas ao colidirem com a atmosfera terrestre. Para o físico Alan Watson, da Universidade de Leeds, que idealizou o Observatório Pierre Auger ao lado do Prêmio Nobel James Cronin, esse pode ser o começo da astrofísica dos raios cósmicos. “Os resultados que agora apresentamos inauguram uma nova era na astrofísica, a era da astronomia com raios cósmicos, através da qual poderemos estudar, de maneira inaudita, fenômenos extremos no domínio da assim chamada astrofísica relativística”, diz o físico Carlos Ourivio Escobar, pesquisador do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da atuação dos brasileiros no Auger.
A participação nacional no observatório conta com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Rio de Janeiro (FAPERJ).
Além de pesquisadores da Unicamp, participam dos estudos do Auger cientistas da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do ABC (UFABC), Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
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